Você ama aquele cafajeste.
Ele diz que vai e
não liga,
ele veste o primeiro trapo que encontra no armário.
Ele não
emplaca uma semana nos empregos,
está sempre duro, e é meio galinha.
Ele
não tem a menor vocação para príncipe encantado e
ainda assim você não
consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete
feito manteiga.
Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas.
Por que você ama este cara?
Não pergunte pra mim; você é inteligente.
Lê livros, revistas, jornais.
Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do
Robert Altman,
mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu
valor.
É bonita.
Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de
xampu e
seu corpo tem todas as curvas no lugar.
Independente, emprego
fixo, bom saldo no banco.
Gosta de viajar, de música, tem loucura por
computador e
seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não
pega no pé de ninguém e adora sexo.
Com um currículo desse, criatura,
por que está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa.
Quem dera o amor não
fosse um sentimento,
mas uma equação matemática:
eu linda + você
inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer
conhecimento prévio nem consulta ao SPC.
Ama-se justamente pelo que o
Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às
pencas,
bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas
ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é!
Pense nisso.
Pedir é a maneira mais eficaz de merecer.
É a contingência maior de quem
precisa.
- Arnaldo Jabor
- Arnaldo Jabor
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